Momento Mãe

  • Acompanhe

Guilherme, 6 meses: um amor que só cresce… E meu 1o dia das mães

30 abril, 2015, Paula Saretta Momento Mãe 0


Guilherme, 6 meses: um amor que só cresce… E meu 1o dia das mães

POR Paula Saretta*

Filho, já 6 meses! Já! Desde que você nasceu, eu ficava imaginando como seria quando chegasse nos 6 meses de sua vida. Isso porque sabia que com 6 meses você teria um salto importante no seu desenvolvimento… Que ficaria mais tempo brincando e explorando os objetos no seu espaço de brincar, além de que ficaria menos dependente da amamentação e começaria a introdução de novos alimentos…

Realmente, de fato, isso tudo aconteceu ou vem acontecendo… Você está incrível nas brincadeiras exploratórias. Você rola pra lá e pra cá… Você escolhe os objetos, se esforça para pegá-los em qualquer lugar do tapete… Tenta pegar um em cada mão… Passar de uma mão para outra… Está cada vez mais consciente de seus movimentos. Cada vez mais participativo nos cuidados corporais. É incrível vivenciar tudo isso com você, filho. Hoje em dia você pode ficar horas ali, brincando… Conhecendo… Descobrindo o mundo… E eu fico aqui, admirando, emocionada, querendo registrar tudo.

Ando me emocionando com tudo que se refere a você, filho. Olho para você tão sorridente e feliz e me emociono. Olho para você dormindo e me emociono. O que é isso, filho? Que amor é esse? Juro que imaginava, mas não sabia o que, agora escrevendo, me parece tão óbvio: que amor é esse que só cresce? Como pode ser assim? Chega a assustar, filho. Assusta mesmo!

Este mês é comemorado o dia das mães na nossa cultura, filho. Um dia você vai entender tudo que está por trás de datas assim, mas independentemente de todas as discussões comerciais e etc. que a data sugere, acaba sendo um mês em que muitas reflexões e declarações de amor são oferecidas às mães. Uma bela desculpa para agradecer o imenso carinho e a dedicação de pessoas tão fundamentais nas nossas vidas. Ou, até em alguns casos, pode servir para retomar possíveis desencontros… Ou mesmo para perdoar, nem que seja só para trazer paz e continuar a seguir o caminho.

No nosso caso, filho, você ainda não tem ideia da representação simbólica dessa data e nem quero que um dia você faça dela um motivo para, forçosamente, me dedicar um presente qualquer. Mas, vou aproveitar o meu 1o dia das mães para lhe contar uma breve história do quanto sempre quis ser sua mãe.

Sempre quis ser sua mãe, filho. Sempre. Mas não foi tão fácil e lógico como imaginava. As pessoas tratam a maternidade com tanta banalidade e a pergunta que toda mulher em algum momento da vida, certamente irá ouvir é: “e você? Não pretende ser mãe?”. Nem toda mulher “sonha” (como gostam de dizer…) em ser mãe, filho. Nem toda mulher quer ser mãe. Isso não é algo natural ou obrigatório. E, o que ninguém considera, na indiscrição dessa pergunta, é que muitas mulheres não podem ou não conseguem, pelo menos por meios naturais, serem mães. Ou seja, além de tudo, muitas vezes, as mulheres precisam dar uma “boa” resposta só para sair da conversa, do tipo: “não chegou meu momento ainda” e ter que encarar olhares de julgamento, como se fossem egoístas e insensíveis.

Bom, voltando a nossa história… Há pouco menos de dois anos, ouvi, com cuidado e gentileza do médico que fez meu diagnóstico, que não poderia ser mãe naturalmente. Para alguém que trabalha com crianças, que pensa na infância com tanto apreço e respeito, que já se sentia pronta e desejava profundamente ser mãe… Você pode imaginar como aquela notícia soou nos meus ouvidos… Foi algo devastador, filho. Triste. Triste.

Mas como tudo na vida, nos momentos mais difíceis, encontramos saídas e caminhos necessários para sobreviver às dores da alma. Caminhos que se não fossem pela dor, talvez nem conhecêssemos. Talvez nem nos déssemos conta que existissem. E assim foi… Abri mão de algumas coisas, seu pai recebeu uma proposta de ficar fora do Brasil terminando o doutorado por uns meses e fui junto. Aprendemos tanto por lá… Aprendemos, principalmente, a nos conhecer, a apreciar as coisas, a olhar o mundo sem tanta aceleração… Aprendemos a ficar quietos. Entender os silêncios. Mais do que entender, respeitar o silêncio. Silêncio de dentro. O silêncio que sempre nos apavora.

Nesse processo de querer ser sua mãe e esperar por você bem mais do que 9 meses… Eu aprendi tanto… Aprendi o verdadeiro sentido de fertilidade. De tudo, isso foi o mais libertador, certamente. Libertador foi quando parei de me sentir infertil, como o diagnóstico sugeria e, passei a me sentir viva, criativa, humana, cheia de vida. Fértil! Cada vez mais fértil! Há tantas coisas no mundo… A vida é tão maior do que imaginamos, filho. Sempre há outros caminhos. Sempre!

Nesse processo todo, aprendi a viver de um modo mais verdadeiro com quem sou, com quem quero ser. Revi muita coisa, filho. Revi, principalmente, o modo como achava que deveria ser para agradar tanta gente que nem admiro… Que nunca admirei.

Talvez…. Se não tivesse me deparado com essa dificuldade, muito provavelmente estaria vivendo sem parar para pensar no que realmente importa. Estaria, como tanta e tanta gente que conheço, vivendo sem questionar. Vivendo uma vida vivida, pouco pensada. Acreditando em tanta bobagem que dizem por aí… Também sobre ser mãe.

A maternidade teve outro tom para mim. Outro valor. Outra emoção. Hoje, olho para trás e penso em tudo que passamos para ter você aqui assim… Tão maravilhoso. Tão sensacional, como costumo brincar com seu pai. E, mais uma vez, me emociono.

Hoje, pela primeira vez, faço um post de dias das mães, sendo mãe. Escrevo para você, Gui. Escrevo por você, Gui. Porque sempre quis ser sua mãe. Sempre. Obrigada por estar aqui, filho. Obrigada por tudo isso.

De sua mãe, Paula.

01/05/2015.

________

Fiquei grávida do Guilherme por meio de fertilização in vitro em Janeiro de 2014.

* Paula Saretta é psicóloga. Doutora em Educação pela Unicamp. Mestre em Psicologia Escolar pela PUC-Campinas e aperfeiçoada em Queixa Escolar pela USP. Formadora de professores e consultora em Educação e Psicologia. Fundadora do site/blog Ouvindo Crianças.