Momento Psicóloga

  • Acompanhe

“Agora eu tenho um irmão! Será que meus pais continuam me amando do mesmo jeito?”

23 março, 2014, Paula Saretta Momento Psicóloga 8


“Agora eu tenho um irmão! Será que meus pais continuam me amando do mesmo jeito?”

*POR Paula Saretta

Famílias em que o amor transborda, multiplica, ficam ainda mais abastecidas quando um novo membro chega para completar suas vidas.

No entanto, há que se ficar atento aos sentimentos dos irmãos mais velhos, daqueles que já estavam ali e, que tinham, até pouco tempo, toda a atenção dos pais só para eles. Não se trata de dramatizar ou, ao contrário, supor que ciúmes ou competição entre irmãos nunca irá acontecer. “Ah… aqui não! Eles se amam muito”, como muitos pais afirmam, como se quisessem logo deixar claro: “aqui temos amor suficiente para todos”.

Sem nenhuma dúvida. Mas sentir ciúmes do irmão é um comportamento não só esperado, como também saudável emocionalmente. É natural que quando você precisa dividir algo, principalmente o amor dos seus pais, surjam sentimentos dentro de nós que nos obriga a agir em nossa defesa, vamos dizer assim. Chamar a atenção para si, mostrar que ainda está lá, mostrar que precisa de carinho e cuidados tanto quanto o irmão mais novo, por exemplo, são comportamentos esperados de crianças pequenas que ganham um irmãozinho.

Os filhos são sempre diferentes, cada um tem sua necessidade, suas particularidades e seu modo de se relacionar com seus pais. Aliás, mesmo sendo dois irmãos do mesmo pai e da mesma mãe, nunca eles terão o mesmo pai e a mesma mãe. Não somos os mesmos, não fomos os mesmos quando nasceu cada um deles e nem estávamos no mesmo momento de vida, como pessoa, como casal, etc. Ou seja, os sentidos de pai e mãe que cada um de nós carrega dentro de si é sempre singular. Único.

Mesmo se a criança tenta bater no irmãozinho ou reagir de um modo agressivo, empurrando o carrinho, gritando para chamar atenção enquanto a mãe está amamentando, por exemplo, devemos deixar bem claro que o problema não está no que elas sentem, mas sim no seu comportamento inadequado, não aceitável.

O importante, como sempre, é ter sensibilidade para “ouvir” o que seu filho está tentando lhe comunicar com um determinado comportamento. Respeitando o que as crianças sentem, acima de tudo. Isto porque, assim como nós, adultos, as crianças não podem evitar sentir o que sentem. Elas podem, com nosso auxílio, aprender a reconhecer seus sentimentos para conseguir aprimorar, aos poucos, seu autocontrole.

Um dos grandes desafios da educação das crianças é conseguir, mesmo numa atitude equivocada, respeitar a dignidade delas. Ou seja, conseguir, no momento da sua irritação, trabalhar com os sentimentos envolvidos, sem julgamento. Isto é, quando for conversar com a criança, referir-se ao fato em si e não depreciar sua auto-imagem ou construir uma visão negativa sobre ela. Por exemplo, ao invés de “você nunca para quieto, sempre desajeitado, derrubando as coisas do seu irmão, cuidado que é ele pequeno” e logo em seguida, pegar o irmão mais novo no colo, oferecer conforto emocional e sair recolhendo o brinquedo derrubado, deixando o “desajeitado” de lado ou de castigo… Poderíamos dizer: “você está bravo porque… (dar um motivo possível, por exemplo, porque eu não posso ficar com você agora). Você se aproximou do seu irmão e derrubou os brinquedos dele. Ele não gostou e chorou, porque ainda não consegue falar para você não fazer isso. Como podemos resolver essa situação?”. Provavelmente, ele mesmo irá propor recolher os brinquedos e reorganizá-los, principalmente se essa estratégia de ouvir, sem depreciar a criança, sempre for utilizada…

Podemos ajudar a criança que sente ciúmes de seu irmão, por exemplo, mostrando para ela, por meio das suas atitudes (principalmente!), o tamanho do seu amor. Dizendo, se necessário, que ela não precisa ter determinadas atitudes para chamar nossa atenção. Mas se ela mesmo assim continuar agindo deste modo, precisamos dizer, mais uma vez e quantas vezes for necessário, que nosso amor por ela continua exatamente igual, mesmo quando ela se comporta de um modo que você não concorda.

Ouvir, no sentido que sugiro sempre, significa tornar-se aliados das crianças, colocando-se no lugar delas cada vez que demonstrarem algum tipo de desconforto emocional. Muitas vezes, simplesmente acolhendo aquele sentimento, reconhecendo… Não ignorando, nem subestimando… Algo como “entendo porque está triste. Já me senti assim algumas vezes também. Seu irmão precisa se alimentar agora. Como podemos fazer?”. Conversem claramente sobre isso, mesmo com as crianças menores. Negociar com o mais velho, respeitando as necessidades das duas crianças, pode funcionar muito mais do que  um discurso cansativo, pedindo que a criança “pare” de sentir algo… Já pensou nisso? Pensem juntos a partir de agora: o que vocês podem fazer para amenizar a situação?

É desse “ouvir” atento que falamos sempre. Da sensibilidade de reconhecer os sentimentos dos pequenos para que eles se sintam verdadeiramente compreendidos e consigam entender que amor verdadeiro não divide, só se multiplica. Transborda e reacende.

_________

* Paula Saretta é psicóloga. Doutora em Educação pela Unicamp. Mestre em Psicologia Escolar pela PUC-Campinas. Aperfeiçoada em Queixa Escolar pela USP. Formadora de professores e Consultora em Psicologia e Educação. Fundadora do site/blog Ouvindo Crianças.

  • Camila Delben

    Paulinha, como sempre adoro seus textos!!! Esse então… Perfeito!!! Realmente a Mirela melhorou depois que comecei a conversar com ela sobre o que fazer em tal situação e a envolver mais com a neném! Obrigada pela ajuda com os textos!!! Bjinhos

    • http://ouvindocriancas.com.br Paula Saretta

      Obrigada querida! Que bom que a Mirela está bem com a irmãzinha! É um processo mesmo! beijos

  • Patty

    Como é difícil lidar com o primeiro quando chega o segundo… Obrigada por todo o apoio sempre, Paulinha!!

    • http://ouvindocriancas.com.br Paula Saretta

      Patty, obrigada você! beijos querida

  • Juliana

    Realmente, esse assunto é de extrema delicadeza! Na nossa casa já passamos por diversas situações, algumas bem difíceis de contornar…
    As minhas duas filhas são ciumentas… A Marina (3 anos) vive perguntando para Giovana (2 anos): “a mamãe é das duas, né, Giovana?! ” e nem sempre a resposta e positiva!!!

  • Pingback: coisas giras | mãegazine()