Dicas de livros infantis

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Falando sobre a morte com crianças pequenas

15 novembro, 2012, Paula Saretta Dicas de livros infantis 2


Falando sobre a morte com crianças pequenas

POR Paula Saretta*

Um assunto que vira-e-mexe alguém pede minha opinião em como lidar ou como falar com crianças pequenas é sobre a morte, sobre o fim.

Assunto difícil pra gente grande também. Talvez o mais difícil.

Antes de mais nada, precisamos olhar como nós, adultos, lidamos com esse assunto antes de conversarmos com as crianças.

É diferente para uma criança, assim como para os adultos, lidar com a morte de seu animal de estimação, de um parente distante ou de um parente muito próximo. Além disso, existem as diferenças óbvias do grau de compreensão que cada fase permite atingir.

Mas quando pensamos na morte de alguém, a dúvida comum em qualquer idade (não falo só das crianças) é: “Para onde vão as coisas e as pessoas que desapareceram?”

Minha sugestão, diante da total falta de conhecimento e certezas sobre o tema, diga a verdade (a SUA verdade!).

Neste caso, para mim, seria simples assim: “Não sei também, mas vamos pensar/falar sobre isso?”

O convite para pensar/falar sobre o assunto vem embutido de respeito à dor, ao sofrimento, à tristeza que naquele momento a criança demonstra estar sentindo. Respeito que me proíbe de pedir para a criança ocupar-se de outros afazeres ao invés de sentir a sua tristeza. Sentir o vazio que a tristeza nos causa. Sentir mesmo. Falar, pensar sobre isso… Só assim que podemos lidar com sentimentos tão difíceis de serem vivenciados e encarados de frente.

Surpreende-me como temos, de modo geral, uma enorme dificuldade em lidar com um sentimento tão recorrente e necessário para a vida ser vivida. Como, por vezes, falamos: “Imagina, não precisa chorar”. “Não precisa ficar triste!” E logo convidamos quem quer que seja para se distrair, para pensar em outras coisas…

Ficar triste faz parte da vida. É fundamental para nosso desenvolvimento emocional. Não conseguimos crescer se não passamos por crises (o que vale para todas as idades).

Um modo que gosto muito de abordar as crianças, principalmente com assuntos que envolvem uma forte carga emocional, é lendo histórias e possibilitando que elas compartilhem as suas próprias histórias, suas angustias, suas inquietações, seus medos, suas dúvidas…

Um livro que descobri recentemente chama-se “E o que vem depois de mil?”, da Anette Bley, uma autora e ilustradora alemã. O livro conta a história de dois personagens que são grandes amigos: uma criança (Lisa) e um idoso (Otto). Otto morre e Lisa quer saber o que aconteceu. Olga, esposa de Otto, não só reconhece o sofrimento de Lisa como legítimo, como conversa com ela sobre isso, usando as próprias vivências dela.

A meu ver, é um belo exemplo de como podemos conversar com as crianças sobre um assunto tão delicado para crianças pequenas e gente grande.

Uma outra opção de livro infantil muito interessante, que também recomendo fortemente é “Dona Saudade”, da Cláudia Pessoa. A autora escreve com bom humor e usando de metáforas criativas sobre o sentimento que mais se relaciona com a tristeza da morte: a saudade.

Vamos falar sobre isso? Coragem!

Deixo vocês com um trecho do livro “Dona Saudade”:

“Para onde vão as coisas e as pessoas que desapareceram da nossa frente? É o que Fernando quer muito saber. E quem já perde um brinquedo de estimação, um ente querido, ou já mudou de cidade deixando pra trás muitos amigos do peito, sabe o que está incomodando Fernando. Pois é nessas horas que a danada da Dona Saudade senta no nosso colo e nos sufoca”.

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* Paula Saretta é psicóloga. Doutora em Educação pela Unicamp. Mestre em Psicologia Escolar pela PUC-Campinas. Aperfeiçoada em Queixa Escolar pela USP. Formadora de professores e Consultora em Psicologia e Educação. Fundadora do site/blog Ouvindo Crianças.